A cor-chave é sua. O andar entre as sementes estala na chuva de água mansa com mais força. No horizonte riscado perdi meu olhar, deitei na terra e senti a lama que não é minha. Incensa-me a terra molhada: o vento acelera com rudeza todas as lembranças que a junção de princípios traz.
Inundam-me de pensamentos esquecidos todos os mergulhos na terra movediça. A lama desfigura e traz consigo um cheiro peculiar, um odor de subterrâneos unidos que sempre querem surpreender a superfície. Sempre revolvem em contato com quem tem estreita ligação. Constantemente retiro da terra a tristeza acumulada pelos antigos.
Bebo, respiro a água, e nela profano meu corpo. Deito... Aos desavisados a chuva não tem canto, e muito menos prazer. Ela funde o outro somente para lembrar as doenças que nela são expulsas. Oprime quem se horizontaliza nas faces terrenas. A solidão sutural aperta e redunda em arrelia quando se encontram os elementos, água e terra.
A cor da carta de espadas é a cor da morte, da ausência de vida. A lança ou espada corta e penetra no mar infinito do tempo que não se engana. Nesse sonho, a carta não pode ser levantada, senão a mão ficará fora e não mais furtará a cor.
*Reproduzido do livro Contos do Corte (Entrelinhas Editora), obra vencedora do Prêmio Mato Grosso de Literatura

Afonso Henrique Rodrigues Alves é natural de Rondonópolis (MT), formado em Ciências Sociais (UFMT) e estudante de Cyber Security nos Estados Unidos. Escreve literatura desde os 21 anos
ATENÇÃO: na quinta-feira (15) o tyrannus vai publicar o milésimo poema, sem repetição de versos ou poetas.