festa clubber*
seis horas da manhã de domingo
estou no carro de um desconhecido
não há nada mais sobre
minhas pálpebras senão
um conceitual borrão rosa e preto
e a suspeita que minha vida
não ia nada bem
empresto a chave da minha casa
para um também desconhecido
cheirar ketamina
eu sabia que não era ele
o homem da minha vida
embora eu também seja
apaixonada por cavalos
homens casados que se parecem
com gays estilosos
gays de classe média alta
que se parecem com héteros
da quebrada
travestis belíssimas
seguram copos de gin tônica
andam feito cardume
tudo cheira magia
e baunilha
nos corpos das
donas da noite
*Poema reproduzido da Revista Cândido, da Biblioteca Pública do Paraná https://www.bpp.pr.gov.br/Candido
gus benke

Gal Freire é uma poeta e bailarina nascida no Maranhão e radicada em Curitiba. Graduanda em Dança pela Universidade Estadual do Paraná - FAP, atua como artista residente no coletivo Selvática Ações Artísticas e investiga o diálogo entre a palavra e o movimento. Publicou em abril a plaquete Efeito Barbie, pela Edições Macondo. O tyrannus registrou também sobre Gal, que ela acredita na escrita enquanto dispositivo vodu e na dança como produção de ficções libertárias