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Terça, 25 de dezembro de 2012, 20h00 Lêdo Ivo Canto Grande Não tenho mais canções de amor. Joguei tudo pela janela. Em companhia da linguagem fiquei, e o mundo se elucida. Do mar guardei a melhor ondaque é menos móvel que o amor. E da vida, guardei a dor de todos os que estão sofrendo. Sou um homem que perdeu tudo mas criou a realidade, fogueira de imagens, depósito de coisas que jamais explodem. De tudo quero o essencial: o aqueduto de uma cidade, rodovia do litoral, o refluxo de uma palavra. Longe dos céus, mesmo dos próximos, e perto dos confins da terra, aqui estou. Minha canção enfrenta o inverno, é de concreto. Meu coração está batendo sua canção de amor maior. Bate por toda a humanidade, em verdade não estou só. Posso agora comunicar-me e sei que o mundo é muito grande. Pela mão, levam-me as palavras a geografias absolutas. Lêdo Ivo, poeta brasileiro (1924-2012) |
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Fonte: Tyrannus Melancholicus Visite o website: https://www.tyrannusmelancholicus.com.br/ |