eu morto*
eu morto, subjugado no centro
da cidade, aguardando processo
de reconhecimento dos órgãos
enquanto dura a falácia feita
do absurdo que é estar morto, pronto
ao descarte infinito da pele.
três larvas se aproximam, me olham
e decidem por quando começam.
meu peito parece abrir-se ao meio
e isso só poderiam as larvas
fazê-lo com precisão sintética.
mas aguardo e são mãos quem cortavam
cada pedaço – lâmina, faca
falência dilatada, cingida.
*Poema reproduzido do site http://sibila.com.br/

Miguel Jubé nasceu em Goiânia (GO). Concentra seus estudos em poesia luso-brasileira, literatura goiana, estética e filosofia da arte. É professor de Língua Portuguesa e Literatura para os ensinos básico e superior. É editor de livros pela Martelo Casa Editorial. Recebeu, em 2014, o Prêmio Literário Açorianidade, da Associação Internacional de Colóquios da Lusofonia, por seus poemas de minimemórias (Calendário de Letras, 2015/Caminhos, 2015), obra vencedora com unanimidade pelo júri