As rezas que inauguram o dia*
Há algum tempo eu me convenci de que poemas estão no início e no fim.
Então me levanto pela manhã
com metáforas enroladas na língua; com visões plenas de abismos.
Não respondo um bom dia sequer,
mas já repeti dois ou três versos em silêncio, um ritmo mental,
a incandescência do dia.
O poema do início, uma fundação.
Quando as lutas se acalmam e se abaixam as espadas,
eu volto ao poema em busca do fôlego, o fim da fadiga.
Abro os vãos da casa e avisto um descampado,
infinito campo de unguento.
O poema que é fim de tudo,
o impronunciável: um soluço que interrompe a lágrima.
*Poema reproduzido da Revista Cândido, da Biblioteca Pública do Paraná https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/
acervo pessoal

Samantha Abreu nasceu em 1980, em Londrina (PR), onde vive. É professora, produtora cultural e mestre em estudos literários pela UEL. Lançou "Fantasias para Quando Vier a Chuva" (2011), "Mulheres Sob Descontrole" (2015), "A Pequena Mão da Criança Morta" (2018), "Debaixo das Unhas" (2020) e "O Coração e o Voo" (2021). Está presente em várias antologias com autores de todo o país. Também tem sido publicada em sites e revistas literárias e teve textos adaptados para o teatro. Faz parte do Coletivo Versa, que pesquisa e divulga a literatura produzida por mulheres. Em 2020, recebeu o Prêmio Outras Palavras, da Secretaria da Comunicação e da Cultura do Paraná