Retorno ao pó*
mas se o que restou
foi silêncio
o que ainda dizem estas palavras
repostas sobre a página?
no silêncio não há mais perguntas
(então por que perguntas?)
como no som e na fúria
não houve respostas
mas se não há perguntas
nem houve respostas
o que ainda dizem estas palavras
repostas sobre a página?
dizem que há formas distintas
de indiferença:
e que se é indiferente
sujar ou não o papel de tinta
recolha-se o mundo
à sua indiferença
enquanto eu escolho
como recolher-me à minha
*Poema reproduzido de http://www.elsonfroes.com.br/ldolhverso.htm

Luis Dolhnikoff nasceu em São Paulo, mas está radicado em Florianópolis desde 1995. É poeta, escritor, editor, tradutor, revisor e crítico literário. Estudou medicina e letras na Usp e já lançou vários livros. Colaborou com resenhas e artigos literários em veículos como O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde (São Paulo), A Gazeta do Povo (Curitiba), A Notícia (Joinville), revista Sibila (SP) e jornal Clarín (Buenos Aires). Um dos seus primeiros livros de poesia, "Pânico" (1986), teve apresentação de Paulo Leminski. Entre 1992 e 1995 coorganizou, ao lado de Haroldo de Campos, o Bloomsday de SP, em que deu a público suas traduções de poemas de James Joyce. Em 2015, seu livro "As rugosidades do caos", foi finalista do Jabuti. Entre outros livros, já lançou também "Impressões digitais" (poesia), "Microcosmo" (poesia), "Impressões do pântano" (poesia) e o volume de contos "Os homens de ferro"