Colina
I
Todas as noites os carros trazem até aqui a tranquilidade
Perfumes desconhecidos enviam gente desconhecida
a rodas ocasionais para tomar um,
deixando solitário o cachorro,
que morde um pedaço de lua.
Até ele é desconhecido – Gustavo
ou Fernanda, abanando o rabo para mim.
Após o cachorro há o vento, após o vento a indiferença
filtrando-se no coração, devolvendo-me
a morna lua.
II
Alguém toca guitarra até desnudá-la,
outros caminham com as suas vozes,
parecendo caminhar para o outro lado do céu
Entre as vozes, uma risada me apaixona
mas a nuvem escura de dentro da risada
nunca ri.
Daqui, para a casa vizinha do vizinho –
há infinidades de vizinhos. O tempo hoje deverá ser bom –
o meu balcão está no umbigo dela.
O guarda diz boa-noite para alguém.
III
Oh, minha amada vindo da selva
poderá descansar após entrar no ouvido da noite.
Não há qualquer pássaro à noite, mas há uma cigarra
rastejando no segundo ponteiro do relógio
Cantando
Que horas serão por lá? Aqui na Colina, os poucos
prédios solitários não podem preencher meu pijama
Eu não sou o meu próprio magro corpo
Nem é o Brasil o oeste de Ba Shu
*Poema reproduzido do site https://brasiliarios.com/ , tradução de Maria Lúcia Verdi. Interessados em ler mais sobre o autor podem acessar o link
iwp.uiowa.edu

O chinês Hu Xudong (1974 - 2021) foi poeta, crítico e tradutor, mestre em literatura comparada e doutor em literatura chinesa contemporânea pela Universidade de Pequim, onde trabalhou. Foi professor assistente no Instituto de Literatura Mundial e vice-presidente no Centro de Cultura Brasileira. Entre 2003 e 2005, esteve como professor visitante na Universidade de Brasília. Publicou oito livros de poesia, também prosa, ensaios, traduções de poemas e crítica de poesia. Ganhou vários prêmios, como o Prêmio de Poesia LiuLi´an, o Tomorrow-Ergun, o Top 10 Novos Poetas e o Prêmio Internacional do Rio das Pérolas